Intolerância

quarta-feira, 18 de maio de 2011 |

Uma longa história de resistência contra uma sociedade dominante que não tem aceite a sua sub-cultura, tem sido oferecida pelo povo cigano:

  • As autoridades queriam torná-los iguais ao resto da população, impedindo-os de ter as suas particularidades no vestir e nos hábitos de vida. Ainda assim, muitas vezes os ciganos se conseguiram esgueirar ao seu controlo. Data de 1526 o primeiro documento legislativo contra os ciganos – o alvará de 13 de Março exarado pelas Cortes de Torres Novas – determinando a proibição da sua entrada no reino e a expulsão dos que por cá andavam.

    Como estas tentativas de erradicar a sua presença não surtiram efeito, recorria-se a castigos que iam de açoites com baraço e pregão, separação das famílias, até ao degredo para as províncias ultramarinas, incluindo o Brasil. Houve sucessivas renovações de legislação que por vezes afrouxavam desde que os ciganos vivessem em bairros próprios e vestidos à moda portuguesa.

    Filipe I de Portugal decretou uma vez mais a sua expulsão no prazo de 4 meses, findos os quais seria aplicada a pena de morte, seguindo-se as Ordenações Filipinas publicadas em 1602, com a condenação às galés e vários alvarás que reforçaram a perseguição pelas queixas de roubos e outros delitos praticados pelos ciganos.

    D. João IV decretou a deportação dos calé para Cabo Verde, Angola e outros territórios ultramarinos em 1647, seguindo-se outros alvarás de D. Pedro II e D. João V, que continham algumas diferenças: deportarem-se os ciganos “de fora” – o que indica que as movimentações continuavam – e de se tolerarem os que já eram naturais, “netos de portugueses”, desde que tivessem residência fixa e trabalhassem honestamente.

    Mesmo assim, os ciganos não se adaptaram a esta situação, tendo havido, no reinado de D. João V, sucessivos decretos que agravavam as penas e as deportações para as províncias ultramarinas, incluindo a Índia. E por muito tempo este regime foi mantido.

    Já no séc. XIX, uma portaria de 1848 decretava que fosse exigido passaporte aos ciganos que deambulavam pelo território. Pouco mais de cem anos depois, em 1954, houve um parecer da Procuradoria Geral da República no sentido de ser criado um documento de identificação específico, por se considerar que constituíam perigo para a ordem e tranquilidade pública.
    Fonte: Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural

A música e a dança serão factores que contribuem para a identidade do grupo, mas observando estes rapazes certamente se dirá que não são "ciganos puros":



Certamente não conseguiremos explicar a sua resistência sem ter em consideração a sua coesa organização social:

  • A união matrimonial entre duas pessoas, que normalmente se faz segundo a lei cigana, é o primeiro passo para a formação da família cigana, unidade base da sua organização social, unidade económica e educativa do grupo, bem como garante da coesão das estruturas. Assim, a sua organização social depende bastante dos laços criados pelas trocas matrimoniais entre alguns grupos, sujeitos a certas regras e leis comuns.

    Está estruturada em torno de um quadro de valores simbólicos e morais, num conjunto de regras e interdições muito ligadas ao conceito de limpeza e pureza (a virgindade das mulheres antes do casamento), aos comportamentos que envolvem o relacionamento de homens e mulheres, ao respeito pelos mais velhos, ao amor e dedicação às crianças, ao luto que os une na dor, à veneração pelos seus mortos.

    A solução para conflitos ou faltas graves tem que ser encontrada em conjunto pelo grupo dos mais velhos, adoptada em consenso e baseada nos valores da moral e do respeito pela honra e pela pureza. O castigo imposto pela comunidade é aplicado ao infractor e alargado a toda a família. Há também muitas vezes o recurso à opinião e conselho do Tio, homem de respeito,de certa idade, com família numerosa, inteligente e sábio, que está bem na vida e sabe falar, e que é reconhecido pela comunidade.
    Fonte: Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural

Hoje, no século XXI, os ciganos continuam a ser vitimas de discriminação:

  • A venda ambulante, a sua principal actividade, mantém-se na medida em que haja espaços povoados que lha permitam, mas cada vez será mais difícil ganhar a vida deste modo. Com uma escolaridade baixa, na grande maioria dos casos, não é fácil ascenderem a outros empregos. Se os rapazes ainda fazem o 1º ciclo de ensino básico ou vão quando muito até ao 9º ano, as raparigas, por uma questão de regras internas, abandonam precocemente a escola. Deste facto resulta uma escassez de competências que não lhes permite ter outros meios de vida.
    Fonte: Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural

Que aprendemos a ser intolerantes pela educação que recebemos do meio familiar é o que sugerem as experiências realizadas com crianças:





A TVI fez uma reportagem onde denuncia a intolerância em Portugal: (Tópicos)




Comente tendo em consideração o papel:
- do meio familiar;
- atribuído à Escola pela sociedade;
- dos meios de comunicação social;
- da crise económica.

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